Agarro-me, com frequência, aos galhos mortos, nas ocasiões em que me penduro nos abismos. Tenho a impressão de que o suicídio, na forma como o pratico, não liberta, mas aprisiona. Prende, com garras melancólicas, obediente ao coração que deseja sofrer, para escapar da indiferença de viver o vazio que implica a si mesmo. Sei o que sou, e sei porque faço de mim o que quero ser. Descubro a cada dia o poder que tenho de multiplicar a agonia. Mas o que posso fazer, se gosto do vento gelado na pele? Vivo de saudade e é nela que me encontro, pois não pertenço ao presente. Realizo-me na intimidade do medo e da solidão, e sonhar faz parte da minha essência.
Hoje, percebo que estas palavras são a minha assinatura, minha marca registrada, meu símbolo. Meu mundo interior é um grande desfiladeiro, com o sol quase posto ao fundo, o mar abaixo revolto, que é para combinar com as nuvens de tempestade que vão só até o meio do céu, pois, quando olho para trás, quero ver estrelas. É aqui que eu encontro paz.
Por algum tempo me envergonhei de mim mesmo, como o faço com tudo na vida. Açoitei-me com palavras más, no silêncio dos meus desejos frustrados, para me fazer mártir. Me maltratei através dessa minha convicção cinza. Acredito que esta tenha sido uma etapa, a qual me levou lá longe, a ponto de voltar para perto, sempre temendo pelo tempo perdido. Vim até aqui, esta vida de onde escrevo. Não tenho intenção de me livrar dos cabelos grisalhos que cultivei na alma, a contragosto do destino. Tão pouco irei abrir mão da parte de mim que ri da vida e gosta de sorri para as pessoas, como forma de gratidão. Tenho, ao longo dos anos, sistematicamente ignorado essa última, em detrimento do mundo que eu gosto de sentir. Acho que posso dizer que começo a me entender um pouco melhor.
Irei me usar como bateria para mim mesmo. Toda felicidade que encontro é batizada pelo leve aspergir de dor que borrifo sobre ela. E é na beleza dos contrastes e da mente masoquista que carrego onde nascem as cores mais bonitas do mundo, para mim. Sigo pela vida, absorvendo o que de bom e ruim me convir. E que prazer isso me dá!
Irei me usar como bateria para mim mesmo. Toda felicidade que encontro é batizada pelo leve aspergir de dor que borrifo sobre ela. E é na beleza dos contrastes e da mente masoquista que carrego onde nascem as cores mais bonitas do mundo, para mim. Sigo pela vida, absorvendo o que de bom e ruim me convir. E que prazer isso me dá!
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