Setembro começou frio. Penso nas ávores, elas meio que morrem no inverno. Ficam todas esqueleticas, com aquela aparência triste de quem definhou e lutou até o último minuto, mas não conseguiu resistir. No fim das contas, o frio sempre ganha. Uma hora vem um outono e leva embora todas as suas folhas. Então, vêm um vento gelado, seco, áspero, e você está exposto, completamente nú, completamente vulnerável. Nesse momento, é impossível pensar em primavera. Todas as flores parecem tão distantes, tão impossíveis. Lembrei-me do verão. O verão é um tempo a dois. É o tempo dos amores, do sol, do mar, da vida feliz e dos sorrisos. É um tempo que não se vive, a gente assiste. Assite enquanto todos se afogam em tanta luminosidade, e você ainda preso num inverno cheio de árvores sem folhas. E sem flores. E sem ninguém. Olha sozinho, pelo vidro embaçado da janela, enquanto a vida passa. Abrir a janela é impossível, o vento é forte demais, se tentar, ele te congela inteiro e você se quebra em milhões de pedacinhos. Impossível juntar todos depois, você se perde. Aceitar que nem todos são verão não é fácil. Não ser atrativo lhe força a conviver consigo mesmo por tempo demais. Aí, você, que é um inverno frio, uma árvore seca, uma pedra coberta de gelo... você deseja que alguém veja que, na verdade, você está vivo! Aquelas arvores florecem um dia, acreditem em mim! Daqui a alguns meses, se alguém se der ao trabalho de esperar, elas irão ter folhas. Irão ter flores. Irão ter sonhos. Irão ter vida. Eu terei vida. Dêem-se ao trabalho de olhar. Não deixe que quando o inverno passar, esta seja a única árvore que não conseguiu sobreviver.
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1 Comment to "Metáfora ridícula da árvore"