As nuvens de chuva são, para mim, um bom lugar para se viver. Seria bom rodar, planando, por entre as gotas e a névoa escura. O calor dos raios faria a temperatura oscilar e, na dança do quente e frio do ar a meu redor, eu seria etéreo. E viveria a girar. Cada gota seria irmã, pai, mãe e eu de mim mesmo. Pulsaríamos uniformes de encontro ao destino que nos aguarda a todas as nuvens de chuva: chover. Choveríamos como chovem as tempestades mais intensas - lavando consigo o que há de descoberto no mundo. Levemente, cairíamos sobre o mundo cru, enquanto cada parte de mim faria o som da minha voz retumbar no clique-clique dos pingos de nós, quando tocássemos a pele honesta do que se nos oferecesse. Com nossas pernas líquidas correríamos as reentrâncias mais profundas da existência, numa costura intrincada, até formarmos o texto da vida-água de existir enquanto chuva que caiu; para, em seguida, no tempo que só a mãe d'água pode ditar, derretermo-nos em gás... Vento úmido de água evaporada que sobe quente, quente e quente até esfriar. E no esfriado de nosso corpo gasoso é que nos reconheceríamos como bailarinos no céu, confusos de nós mesmos como nós mesmos, embora certos do céu que a tudo cerca.
E é por isso que, hoje, quando olho para o céu, não me sinto mais só.