Devoto-me aos amores que conheço: os meus. Dentro deles, sinto inevitavelmente tudo que devo sentir. Aqui sou de fato feliz. O tempo é limitado, não preciso de muito. Preciso apenas de doses diárias de qualquer sensação que seja. Abraço-me de dentro para fora. Todas as minhas dobras envergam para dentro. Enferrujei por fora e apareço como uma carcassa mal cuidada. Perdoem-me se não me preocupei com o lado de fora, o que acontece é que se eu descuidar de dentro, desmorono. E aí eu não sei se consigo voltar... Agora, acredito que seja dificil demais desfazer a postura. Teria de trocar peças que não existem, tirar partes que não podem ser tiradas, deixar para trás dores que, hoje, dizem mais de mim do que qualquer sorriso. Pretendo uma vida feliz. Sonho com momentos especiais. Não preciso de fogos de artfício ou grandes espetáculos. Quero coisas simples, sacio-me fácil. Sou uma alma de pouco apetite, mas de grande vontade. Quero mais do que posso ter, pois o que desejo é tão pequeno que só faz falta a mim, então acham que é pirraça. Cada passo que dou nessa vida, e acredite no que eu digo agora, pois não há nada mais sincero em mim, vai na mesma direção. O problema é que eu não sei andar sozinho. Sei aonde quero chegar, só não quero ir lá ainda. Preciso de autorização. Faltam-me aqueles olhos. Não é que eu queira me submeter ou me anular. Porém, não me desculpo pelo atrevimento de dizer que o faria de bom grado, só pela vontade de sentir de verdade o que é ser tocado.
Sabe qual é o meu problema? O meu problema é que eu sempre retorno à essa mesma poltrona vermelha para dizer das mesmas danças, dos mesmos gestos, dos mesmos corpos que eu vejo se distanciarem de mim. Somos amigos aqui, nesse espaço, eu e minha melancolia. Preciso de respostar que ninguém tem para ser estável e é por isso que estou sempre em convulsões. Talvez seja por isso que as imagens de mim são tão borradas. Minhas fotos nunca são belas. Aceito minha dor e gosto de falar dela, até demais. A dor faz tudo parecer mais heróico, mais digno. Porém, não aceito sua dor. Não porque não possa, mas porque não quero. E não é por maldade, é por respeito. Sou o tipo de pessoa que foge de tudo, tenho medo do mundo e de todos e tenho consciência de que corri de você. Não, você não se sente amada. Nunca se sentiu e jamais acreditou em mim. O meu amor é feio, pois nasce de uma alma covarde, que esconde o rosto e vira as costas para quem olha em sua direção. Adimito agora o maior dos meus segredos: tenho tanto medo. Não gosto da rua, não gosto dos olhos, não gosto das mãos... e os quero tanto! Você confundiu minha tristeza fria com indiferença, meu reflexo nervoso com agressividade. Será possível ter fobia de viver? Se você tiver de ir embora, vá! Seja feliz! Não há ironia em minhas palavras, ou suplica. Há resignação, aceitação. Conto meus passos pelas coisas que perdi e vejo meu futuro em dores que virão. Esse sou eu! Não sou de pedra, não sou indiferente, não sou bonito, não sou confiante, falo demais, escrevo demais, repito demais... Trago de volta algo que já disse várias vezes. Estar comigo é doloroso e isso sempre me incomodou mais do que qualquer coisa. Essa é a única maneira de falar de mim que eu conheço, mas conheço inúmeras outras para falar de você, sabe por quê? Você me ensinou a viver. Faz anos que eu sou uma cópia imperfeita sua. Cada passo, cada gesto, cada sorriso, só para ver se consegueria amar igual. Sabe qual é o nosso problema? Eu quero te arrastar para o buraco comigo. Eu já sabia que algum dia você iria me esquecer, eu aceito isso. E repito, não é por maldade, é por respeito. E se não for atrevido demais, por amor. Portanto, se você tiver que me esquecer, esqueça! Vá embora para longe, se isso te fizer feliz. Contanto que eu não seja mais a causa da sua dor. Pode soar egoísta para você, como tudo que eu digo soa, mas não é. Se eu sou apenas esse monstro para você, essa dor tão absurda, me deixe. Mate esse monstro. Pois eu não posso fazer isso, não pego em armas. Não sei lutar. Aceito com resignação cada decisão sua, sentado nessa velha poltrona vermelha, olhando por esse mesmo vidro, sentindo o mesmo medo enorme de que você seja sensata o suficiente de nunca mais olhar para trás e eu termine sozinho, posto que jamais deixarei ninguém chegar tão longe aqui dentro quanto você chegou. Você é o último tesouro que possuo e eu estou mais do que disposto a perdê-lo, desde que você esteja bem e em paz. Para isso deixarei de ostentar com orgulho e inveja esse mínimo estilhaço de porcelana que carrego grosseiramente enfiado em meu peito. Tiro-o agora e estendo-o a você. O que você quer que eu faça?
Postado por Luiz Azevedo
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