O fim de tarde estava amarelado, parecia que o mundo estava em sépia. A vida vira deserto de vez enquando. A gente dá uma olhada em volta e se dá conta de que tudo que era tão vivo antes, virou pó. Dunas de areia seca que queimam as solas dos pés, apagam as pegadas e deixam a gente doendo e sozinho. Tudo é igual para todos os lados. E vazio. Dá vontade de deitar e ficar sentindo o sol e o vento batendo no rosto, e ficar imaginando, sonhando acordado. Dá vontade de sorrir. Mas aí passa. Porque não dá para sonhar pra sempre, de vez enquando tem de se abrir os olhos, porque as idéias se acabam e a gente precisa de ajuda para ter inspiração. De vez enquando aparece um cacto, um lagarto, um escorpião, uma cobra. Tudo a mesma coisa. Dá até raiva. A gente tem as mesmas manias, as mesmas aversões, os mesmos pensamentos. Nada é original. Mas todo mundo insiste em achar que é. Só que tudo aqui é amarelo sem graça. Ou beje, que é a mesma coisa com nome chique. Daí, dá preguiça de existir, porque se já aconteceu tudo mesmo, cadê o suspense? Cadê a emoção? Cadê qulquer coisa que valha a pena? Mas aí vem o medo. Se não tiver nada disso, o que é que tem? Tem nada. Nada o que? Nada, só nada. E nada ninguém sabe o que é. Só o que não é. Então, vou dar um jeito de arrumar essa bagunça. Botar cada duna lugar, abraçar os poucos cactos que ainda restam, deixar-me morder, picar, bicar, chifrar, rasgar, triturar e tudo o mais, só porque o barulho do vento é assustador demais.
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