Ele andava bebado pelas ruas, não tinha problemas. Vivia em um mundo sublime de torpor e êxtase. Jamais cogitou sair. Continuava, andarilho rasgado e sujo. Mendigo a sorrir. O sangue qualhava e reagia com todas as substancias. Luzes fortes ofuscavam e riscavam a visão. O tempo parou. O barulho distante, nada encomoda mais. Ninguém, todos sumiram. O mundo é um deserto vibrando sensações, um carnaval de todas as cores, preto e branco. Sombras dançam de um lado para outro, brandindo facas e canivetes. E de repente, tudo é hostil. E converge para o centro. Os sentidos gritam, mas não dói. O mundo inteiro e de tão vasto, não dói. Parece morfina injetada de dentro para fora. Cai no chão e não levanta mais. A boca aberta como se gritasse, mas não gritou. Os olhos abertos como se esperasse, mas ninguém chegou. As mãos apertam a garrafa, mas ela também não o salvou. E na vastidão do desconheçido, na eterna noite negra e sufocante do universo, nenhuma lágrima se derramou. Nenhuma lágrima essa noite.

terça-feira, 30 de novembro de 2010 às 17:49 , 0 Comments

Agora?

Descobri o clichê da depressão e não saí mais dele. Passei a pensar que o mundo é cinza, que tudo é solidão e que no fim tudo fenece. Vi o mundo através de uma janela embassada, e fiz de tudo para que ela não se limpasse. Arranquei cada folha dos galhos, para que as árvore jamais deixassem de ser um eco de morte e silêncio. Perdi tempo, sugando tudo de bom que havia em volta e batendo no liquidificador com tinta preta. Fiz o ano inteiro de inverno, mesmo os dias mais quentes. E isso não me fez bem. Não me ajudou a escrever, pois só havia ali uma briga constante em qual dia eu seria menor. Existe um mundo inteiro de sonhos aqui dentro, e as vezes eles são dolorosos sim, mas eles são tão coloridos e tão vivos. E eu, morrendo de medo de mostrá-los assim, arranjei um jeito de borrar. Não quero mais me sentir vazio, pois não sou. Não quero mais aumentar dores que não existem, só para ter uma desculpa para não encarar tudo de frente. Cansei de ser alguém que se apaixona por qualquer um, só para ter alguém por quem chorar. Deixarei escorrer todas as camadas de piche, pois é isso que encanta, algo real. Eu sei sorrir. Eu sei ser feliz. Eu sei me divertir com todos. O que eu não sei, é deixar que um dia termine bem, sem que eu tenha de voltar pra casa e arrumar algo triste para contar. Existem pontas soltas ainda, e elas são também um pouquinho doloridas. Mas, elas não são a única coisa aqui dentro. Existe uma rede inteira escondida, só falta eu conseguir puxar. E já passou da hora de começar a tentar.

terça-feira, 23 de novembro de 2010 às 10:08 , 1 Comment

Tive medo. E não foi de mudar, foi de me perder. Eu queria que fosse possível me enfiar nesse mundo de não me importar e sair andando, balançando e seduzindo a todos. Mas, já não sei se é impossível ou se eu quero continuar assim. Me senti mal, me senti triste, tive vontade de voltar correndo e chorando pra casa. Eu realmente tive medo, e olha tem tempos que não choro, mas hoje é impossível. Não quero sair de casa, quero ficar aqui dentro pra sempre. Em silêncio, trancado no banheiro. Queria ligar pra alguém, mas não quero que ninguém aqui me ouça. Eu queria desaparecer. Ai, é drama, eu sei. Mas não foi premeditado. Nunca me senti tão encosto na vida, tão estorvo, pedra, âncora. E tudo isso regado a esperanças, novamente, burras. Não sei se a nova combinação me pegou de surpresa, mas só por hj eu me permiti chorar, sem nenhum som e sozinho, trancado no banheiro e escondido do mundo. Agora eu vou ali sorrir e comer com a família.

Ps: ninguém me contou que chorar doía as costas e o diafragma. o.O

segunda-feira, 15 de novembro de 2010 às 06:17 , 0 Comments

Não consigo manter o ritmo

Quando eu vou desistir? Deveria ser proibido se iludir tanto. Será que algum dia meu coração finalmente ficará com cãibra e parará de apontar para as direções mais absurdas que ele encontra? Não quero mais me sentir assim. São hormonios isso? Tem jeito de parar com a produção deles? Preferia não sentir mais nada, seria auto-suficiente e feliz. Fotossintetizante. Tenho medo de tudo e sei que nunca vou parar de ter. Tenho medo do mundo, tenho medo de quem eu sou para o mundo. Acho que se pudessem me ver como eu me vejo, já teriam arranjado um jeito de me despedir. No fim das contas vêem sim. E não param para se importar porque é incomodo. Lamentar é só o que eu sei fazer. E acho q estou melhorando nisso. Pelo menos em alguma coisa estou me tornando útil, colocar para fora tudo de inútil que ninguém se importará em ler. E se sentir sem importância é clichê, mas dói tanto quanto se sentir só. Talvez eu estivesse melhor sendo invisível, assim teria alguma coisa para culpar, além de mim.

terça-feira, 2 de novembro de 2010 às 17:10 , 0 Comments