Canteiro

Foram-se elas, as flores. Embora, para onde ninguém jamais as amariam de novo. Ah, as flores. Com sua beleza roubavam-me o coração. Achava que via algo de mim naquelas flores. Mas estava enganado. Não era o que via de mim nelas que eu amava. Era o que faltava em mim. Faltava-me a sua beleza. Faltava-me a sua suavidade. Faltava-me a sua razão de ser. Faltava-me tanto. E sobrava-lhe tanto. E agora não mais o tenho. Pois elas se foram. Sobrara-me a terra. E eu aprendi que antes de tudo, amei a terra. Amei o que ela produziu. Aprendi que mesmo o fogo, que arraza com tudo, não a levará embora. Aprendi que a terra não tem o mesmo brilho das flores, pois esteve sempre aqui, é cotidiana. Mas, aprendi também que ela sempre esteve aqui, olhando por mim. Esperando que chegasse a sua vez de ser amada denovo. E mesmo que novas flores nascam, como eu sei que irão nascer, na próxima primavera, e eu por algúm momento esqueça, ela ali estará. E vi hoje, o que não havia visto antes. Na terra, não vejo tanto de mim. Mas, ela não me fere. Não lhe sobra nada, que ela não possa me doar. E em minha ingratidão, esqueci-me de retribuir. E na próxima primavera, quando as flores nascerem, dela lembrarei. E quando meu coração sentir saudades , restar-me-á perecer como as flores. E à terra tornarei. Para retribuír o amor que nunca antes havia reparado.

segunda-feira, 20 de abril de 2009 às 20:54

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