Mãos

Cansado, estendo mais uma vez estas mãos negras ao infinito. Daqui, vejo marcas e cicatrizes involuntárias de feridas abertas pela minha própria indecisão. O sangue que escorre das feridas novas e antigas é áspero e não traz o conforto do cotidiano. É fria a dor de agora, não lateja nem reaviva os nervos atrofiados. Estes dedos duros galgam sonhos que não combinam com a brutalidade de um desejo morto e tóxico, embora não deixem de tentar. Acostumados a moldar a leve fumaça azeda, produzida pela decomposição da própria carne, em formas que parecem e são a mesma coisa de sempre, desaprenderam a tocar o sólido. Em algum momento, deixei de ser natural e passei a ser... um futuro ser, um sonho teimoso de ser que está sempre prestes a desaparecer, mas insiste, graças a umas pequenas e doloridas velinhas acesas em volta, que são sabem o mal que fazem ao mundo e a essas mãos tortas, podres, negras, doídas e terrivelmente magoadas, ao fazerem tão bem a elas...

quinta-feira, 18 de julho de 2013 às 17:49 , 0 Comments