Sem inspiração

Descobri, agora, que não sei escrever, se não de mim. Só sei falar assim, com alguém. Enunciando mesmo. Conversando. Já pensei em escrever em primeira pessoa, mas não consigo criar um narrador decente. Ou indecente, depende da história. O fato é que, falo apenas daquilo que faz de mim o que sou, do mais fundo que consigo puxar de dentro. Não consigo dar outra cara a mim, já é tão dificil dar a minha cara à mim mesmo. Pensando sobre isso, resolvi escrever sobre algo que divergisse totalmente do que penso, do que sou. Falhei miseravelmente. Não sei sentir o que não é meu. Até quando leio, sinto das personagens aquilo que compartilho com elas, com a história. Sinto o que sou, vindo de outro. Cada dia mais chego a conclusão que eu sirvo pra ler, não para ser lido. Agora, que isso soa solitário e amargurado, isso soa. Outro dia em uma palestra na faculdade, a palestrante mostrou uma série de imagens e destacou o fato da leitura ser um ato pessoal, vc e o livro. Penso que, por mais que digam que existe uma interação com as palavras do autor, a produção do sentido é todo do leitor. Eu, comigo mesmo, conduzido, sim, pelas palavras mas, ainda assim, tudo acontece dentro. Reiterando aquilo que já disse aqui para trás, chego a conclusão que nasci para ser só, e minhas experiencias de contato com o mundo, intersubjetividade, ou como queiram chamar, só fazem confirmar meu destino alienigena.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010 às 20:57 , 1 Comment