Nunca havia reparado na beleza do céu a noite. Encobrindo-nos à distancia por todas as direções. Inescapável. As vezes estrelas brilham. As vezes as nuvens tomam conta. A lua sempre mutável. Profundo. Porém distante. Jamais alguém tocou o céu. Pelo menos não verdadeiramente. Assim eu me considerava. Meu corpo já não era mais o que eu chamava de eu. Ele havia assumido uma personalidade própria, que buscava sobrevivência. Enquanto eu, buscava sobreviver também. Não da forma física, como meu corpo. Tentava permanecer inteira. Custurando os pedaços que caíam pelo caminho. Arrastando partes mortas. Era tudo que eu possuía. Tanto tiraram de mim. Usaram-me de tantas formas. Meu corpo, um estranho, já não mais me reconhecia. Nem eu à ele. Enquanto lágrimas escorriam pela minha alma, um belo sorriso brilhava à quem pagasse mais. Agora que eu já não valia mais nada, nem reconheçia meu rosto ou as pessoas a minha volta. Este é o momento em que eu decidí descançar.
Pages
- Luiz Azevedo
- Alguém que gosta de ler e escrever, mas se deixa levar demais pelas lamentações...