Estava frio. Respirar era uma dificulade imensa. Não pela temperatura, pelo que eu sentia. De todas as pessoas eu poderia esperar isso, não dele. Agora eu tinha certeza de que o medo não iria tomar conta de mim. O que havia para se temer? Todas as minhas certezas, destruídas. Eu não queria mais estar aqui. Fugir antes parecia difícil. Afinal eu não sabia o que esperar de qualquer caminho que eu escolhesse. E então eu finalmente cheguei ao fim da linha. Não importava mais o que eu fizesse. Eu não estava mais aqui. Agora eu viveria de lembranças. Meu futuro se estendia pelo meu passado. Tudo que eu podia ver em frente, era o que eu já havia visto. Minhas memórias iriam me mantar vivo até que eu finalmente encontrasse paz. Nada mais fazia sentido, porque, até mesmo agora, eu ainda estava lá. Com ele. E para sempre estaria. Não importa o que acontacesse ou o que dissessem. Estava tudo acabado e só isso havia me restado.
Aquele lugar não conseguia me assustar. Não era, no entanto, uma dificuldade. Eu estava feliz. Em paz. As pessoas que olhavam por detrás daquelas barras de ferro, não conseguiriram entender. Nunca entenderiam o significado do que eu vivi com ele. Estava eu ali, no canto de uma cela em uma masmorra situada abaixo da cadeia pública. Era assim que me viam agora, a pior escória existente, indigno até mesmo de ficar em meio ao lixo da sociedade. Uma exposição. Minha. A mais nova anomalia que a sociedade tinha a oportunidade de execrar. Não que as minhas preferencias fossem novidade. A novidade estava em meu comportamento. Sem nem mesmo uma pontinha de receio ou culpa. Isso era intolerável. Quantos daqueles olhos que tanto ódio despejavam em mim, não cometiam o mesmo "erro" que eu, porém escondidos. Agora, nada mais importa. Eu havia estado com ele. Havia estado tão próximo quanto se é possivel. Minha alma ainda está lá, e lá ficará para sempre, junto com ele naquela cama. Não existe motivo para medo. Não importa o que fizerem comigo agora, eu estive no céu.
Postado por Luiz Azevedo
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